Já
repararam como é fácil adaptar-se às coisas das quais se reclama? É só notar o
quanto as mulheres reclamam de seus maridos e estão com eles há anos, muitas
vezes sem mover uma palha para mudar a situação. O marido segundo elas não
as deixa fazer nem isso e nem aquilo, não as deixa decidir sobre as suas
próprias vidas. Os homens também reclamam. As mulheres são umas jararacas, não
lhes dão liberdade, têm ciúmes do reflexo delas no espelho, eles não podem nem
sair para uma cervejinha depois de semana extenuante de trabalho. E pasmem tudo
permanece no mesmo lugar. Reclamamos de nosso local de trabalho, dizemos que as
condições não nos servem e ficamos lá ano após ano, um tal de lamento
ininterrupto, sempre apontando as mesmas coisas. Procuramos outra coisa para
fazer. Não. Procuramos algo para fazer conjuntamente para que o trabalho não
seja tão entediante. Não. Ficamos ali estagnados. Reclamamos dos amigos,
dizemos que eles não retribuem à altura o que queremos deles, mas não tomamos
nenhuma atitude quanto a mudar de amigos, ou quanto a melhorar a relação de
amizade. Não olhamos para nós e procuramos detectar quais são as nossas novas
necessidades no que diz respeito a amigos. Ficamos ali, petrificados.
Reclamamos da política e colocamos no governo a culpa pelos nossos infortúnios,
mas não fazemos política de boa vizinhança, organizando primeiro a nossa casa,
depois quem sabe a vizinhança, o bairro, a cidade até quem sabe atingir urbe e
orbe. Ficamos ali, estanques. Parece que somente a nossa boca é capaz de agir,
para falar, muitas e muitas vezes coisas que levam ao reino-do-coisa-nenhuma,
onde nada dá certo, ao contrário, onde tudo piora.
Sim, porque o
falar muito e agir de menos ocasiona a raiva, mágoa, insegurança, medo. Os
culpados de tudo são os outros, que nos invadem, que fazem conosco isso e
aquilo. Entramos em um círculo vicioso e nos embrenhamos cada vez mais na não
ação. Afinal, se nada me diz respeito quem tem que tomar alguma atitude não sou
eu. Engraçado é que como na maioria das vezes eu me relaciono com gente
parecida comigo, ficamos todos ali na firma “dias e dias parados”. Podemos e
devemos nos acostumar a viver bem. Acostumar-se com o ruim é fácil, muito
fácil. Não é à toa que a personagem cômica do programa de televisão apanha do
marido e diz ”Eu góstio”. Viver bem, também não é fácil. Dá um medo danado,
insegurança danada, faz com que a gente atente para mágoas, raivas e mil outras
coisas difíceis. A vantagem está que viver bem, começar a viver bem, dizer não
as mesmices da vida pode modificar a qualidade dessa mesma vida para melhor, o
que venhamos e convenhamos é vantagem mais do que suficiente.
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