Pânico



Sem que esperemos o pânico nos toma e sempre está associado à percepção de que não somos nada, de que basta um sopro para que percamos nossa identidade, para que seja desconstruído tudo aquilo que achamos que somos. Pode nos atingir na cidade grande, mas não é privilégio das grandes cidades. Pode acontecer poucas vezes ou pode tornar-se algo frequente (Síndrome do Pânico). Na verdade trata-se de uma ansiedade aguda e repentina. Eu posso ser acometido por uma grande ansiedade por coisas conhecidas. Por exemplo, posso ter uma crise de ansiedade porque estou para fazer um concurso ou prestar vestibular. Posso ser acometido por maus pressentimentos repentinos, posso ter ataques de terror repentino. Porém a ansiedade de que estamos falando é algo diferente. Algo terrível como o encontro com o Deus Pã, da mitologia grega, filho de Hermes e de uma Ninfa, com seus chifres e sua aparência de homem e de bode. Um Deus profundamente voltado para a natureza e para os instintos e que se divertia em provocar nos seres humanos o medo e o terror - daí o nome da síndrome do pânico. Pã, cujo nome significa Todo, aterrorizava suas vítimas quando elas se defrontavam com a imensidão dos campos, com a grandiosidade das montanhas - os chamados terrores pânicos. E é bem isto o que acontece com as pessoas tomadas pelos sintomas do pânico. Sentem-se esmagadas por algo que não conseguem explicar. Na verdade o que acontece a elas é a percepção de que não podem controlar nada. O sentir, de repente, que tudo o que acreditam ser pode deixar de existir. O pânico abala nosso ego. Há uma comédia interessante com Robert de Niro sobre um chefe da máfia que começa a sofrer da síndrome do pânico e procura o psiquiatra. O mafioso torna-se uma criatura chorona e amedrontada. Ele o grande chefe não tem mais controle sobre sua vida, que dirá sobre a vida dos outros pobres seres humanos a quem costumava ameaçar. Seu ego costumeiramente inflado, infladíssimo, sofre um profundo abalo. Naturalmente para que as coisas entrem nos eixos ele é obrigado a mudar e a olhar para si mesmo. Eis a chave. O floral Rescue pode ajudar nas emergências e de fato ajuda muitíssimo, mas debelar o problema exige uma avaliação mais apurada do que está acontecendo conosco.

Pois Pã exige mudanças. Seus pés de bode ou de cabra ajudam-no a chegar às alturas, a entrar em contato, também com o divino. Ser da natureza, ligado aos instintos, isto não o impede de contatar esferas mais sutis. Ele gosta de mostrar-nos que somos seres duais. Muitas vezes nos esquecemos disso. Somos criaturas de alternância e ora nos debatemos com as questões do espírito, ora com as questões da carne. Negamos muitas vezes nossa mortalidade e sua simples menção nos desequilibra. Negamos muitas vezes, também nossos prazeres. As negações ficam guardadas, vão se acumulando, tornam-se algo autônomo, do qual não temos consciência. Um dia, elas nos invadem e como delas nada sabemos, como entrar em contato, como negociar? Impossível, não sabemos nem ao menos como começar. Talvez seja o caso de aceitarmos, apenas aceitarmos nossas vulnerabilidades, de conversarmos com elas, de acolhê-las. Talvez seja o caso de observarmos a vida e percebermos a que vêm nossos medos e se são realmente pertinentes.

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