Dona
Jair é dama de muitas facetas. Conversar com ela é um privilégio. Dona de um
conhecimento invejável, ela sabe passá-lo de uma forma interessante e leve. É
uma “Donna móbile” no sentido da flexibilidade, mas, percebe-se que sua figura
delicada encerra uma enorme fortaleza de espírito. Percebe-se que soube passar
pela vida e vivê-la e principalmente reverenciá-la. Surpreendemo-nos as
inúmeras vezes em que apareceram no transcorrer da entrevista as palavras
maravilha, maravilhoso, lindo. Não é por acaso que é dela a frase “Sempre ignorei
o muro que me cercava”.
Abaixo
transcrevemos parte da conversa que com ela agradavelmente tivemos quando nos
recebeu em sua casa, parte, porque, este Jornal não teria espaço suficiente
para colocar tudo o que de interessante ouvimos.
A Dama é
eclética
Dona Jair estuda
italiano, mais que isso ela aprende italiano e transforma suas poesias em
italiano. Ela se maravilha todo tempo com a colocação dos pronomes: “nenhuma
criança italiana diz voglio, mas lo voglio. Acho lindo, lindo, lindo!”
A Dama é
erudita e despojada
Dona Jair
conhece muito, mas está aberta a receber e aprender muito mais. Falamos do
texto de Pirandello: ”L´uomo di fior in boca”. Ela o conhece. Conhece a obra de
Pirandello. Possuía todas as suas obras, mas generosamente dou os livros à irmã
que sempre gostou de teatro. “Afinal, tenho tantos livros”.
A Dama é
família
Lançou seu livro
na Biblioteca Municipal de Jaboticabal, casa onde residiram seus sogros. Por
sinal, segundo ela, casa maravilhosa! A Biblioteca chama-se Julia Ruet. Dona
Jair explica que deveria ter o nome de seu sogro – Antonio de Paula Eduardo –
seu Tonico. Na inauguração ela levou um painel em sépia com fotos de família. A
casa lá, linda e o painel, lá, testemunha de uma época. A casa onde moraram
seus sogros, a casa onde morou Suzana de Paula Eduardo Lerro, sua cunhada, que
ainda está viva. O discurso contando a saga da família – 200 anos. Que beleza!
Nos festejos do dia da mulher, a mulher e sua família homenageadas. Com direito
à banda Gomes de Puccini.
A Dama é
memória
Jaboticabal é
uma cidade 42 anos mais velha do que Ribeirão Preto. Cidade importante onde se
formaram os Arroba Martins e outras figuras de nome. O progresso era lá, as
escolas, o famoso Instituto São Luís. O cognome de Atenas Brasileira. Foram
tantas as figuras de nome na literatura a passarem por lá. Cora Coralina morou
lá. Este Instituto São Luís era famosérrimo. Tinha professores
estrangeiros e era para a formação de homens. Internato masculino. Depois virou
ginásio do estado e ficou misto. Em Jaboticabal havia também o famoso Ginásio
Santo André que era de irmãs francesas que vieram juntas com a Congregação do
Sion. “Eu fiquei interna no Ginásio Santo André e achei maravilhoso. Você tem
tudo. Você tem a oportunidade de tudo. Ficávamos no recreio ouvindo música
clássica, havia peças de teatro no sábado e no domingo. Quem não aproveitava
era tolo”.
A Dama é
companheira e parceira
Casou-se com
Fausto Gonçalves de Paula Eduardo. Como tinha formação em química e física, ajudou-o
em suas pesquisas. Ele era agrônomo, formado em Piracicaba e fazia pesquisas de
maior produção por unidade de área, em qualquer setor, em qualquer plantação.
Ele fez do arroz, do milho e foi o introdutor da cultura do mamão, já que o
mamão nunca houvera sido cultura, mas, era considerado fruto silvestre, de
fundo de quintal. Ele levou oito anos para pesquisar. Ela fazia a parte
literária. Ele trabalhava para o fomento agrícola do estado e tinha muitas
premiações. Foi um dos introdutores da soja no Brasil. Dona Jair disse que não
tinha vontade de sair da fazenda. Ela disse: “Eu contei para Adélia Prado e ela
disse: você não percebeu que sua vida foi linda demais?”
A Dama e
as imagens
Ela mostrou
fotos da família de seu marido, todos na escadaria da casa onde hoje é a
Biblioteca Municipal de Jaboticabal. Ela disse: “Meu marido é esse
pequenininho, aqui”. Ali está a memória preservada, os vestidos lindos, os
meninos de fardinha, o passado a olhar-nos. Ela nos conta que no seu discurso,
por época do lançamento do livro em Jaboticabal, ressaltou: “Isto foi um
casarão histórico, onde morou uma das primeiras famílias que povoaram
Jaboticabal, hoje é uma biblioteca que guarda livros cheios de lembranças e eu,
agora, como nora venho juntar meus livros a estes livros. É uma honra que não
tem tamanho”.
A Dama e
a escrita
“Eu era a
escolhida para fazer a redação do que fosse mais sério. Eu passava a limpo as
correspondências das amigas. Há pouco tempo o marido de uma delas me disse que
só agora soubera que deveria ter-me casado comigo, minhas cartas eram uma
delícia”.
Ela disse que
escrever não é uma inspiração. É observação, é experiência de vida, é sentar
pegar o papel e trazer à tona tudo o que você tem armazenado, fruto de muita
leitura. Não é preciso fazer um curso de crítica se lermos o que os críticos
escreveram. Se você já leu, você já percebeu o que é preciso para se perder o
personagem e não chegar ao final. Outra coisa primordial é a leveza. Como dizia
um seu professor “As palavras são como a gente, bem vestidas, malvestidas,
maquiadas, de cara limpa, com sonoridades apropriadas ou não”.
A harmonia é
fundamental.
Pássaro
Ferido
Ecos no Outono -
Jair Yanni
Quando a
tormenta passar
Recolherei todos
os galhos
quebrados da
nossa árvore
e os incinerarei
A brisa há de
levar suas cinzas
suavemente...
Esperarei
paciente
a tempestade
passar
Cuidarei do
tronco castigado
porque acredito
na força das raízes
E quando brotar
a primeira
folhinha verde
reporei seu
ninho
novamente.
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