Falávamos sobre
a raiva e uma amiga muito querida confessou que tinha dificuldade de perceber
quando estava sentindo raiva. Afinal, perguntou-se ela, o que é raiva? O
dicionário não elucida bem a questão já que dá como sinônimos deste incômodo
sentimento o ódio, a ira, o rancor. Ora, ódio e ira, a meu ver, são um estágio
mais adiantado da raiva. O rancor é uma raiva cozinhada em fogo lento.
Certamente quando alguma coisa que nos dizem ou fazem não nos parece justa,
podemos sentir raiva. Podemos senti-la quando frustrados em algo que gostaríamos
de fazer. Quando não conseguimos lidar com uma situação, quando nos sentimos
ridicularizados, quando nos sentimos traídos, quando nos sentimos feridos.
Porém pelos mesmos motivos podemos sentir ao invés da raiva, tristeza,
ressentimento, mágoa, apatia. Cada pessoa reage ao que lhe sucede de forma
diferente. Há indivíduos propensos à raiva, outros a mágoas, outros à tristeza.
Percebe-se isto nas crianças desde muito cedo. Há os que se molestados na
escola, ficam quietinhos, encolhidos. Há os que partem para a briga. Há os que
ficam quietos e de repente, perdem a linha, metem a cabeça na parede, batem nos
coleguinhas. Alguns reagem com muita raiva quando são contrariados, outros
ficam muito tristes, outros nem se abalam.
Importante é
observar as diferentes tendências, não para erradicar o que não achamos
correto, mas para transformá-las positivamente. Penso que de todas, a raiva é a
emoção mais difícil de ser aceita. Crianças raivosas ou são instadas a guardar
sua raiva e a não a manifestar ou tomam conta dos pais que não conseguem
suportar crises de birra ou de malcriação. Assim se fazem adultos extremamente
incapazes de lidar com suas emoções. Bonzinhos demais ou estourados demais.
Bach dizia que cada um de nós vem para lidar com um tipo de emoção. Eu
digo que cada um tem um calcanhar de Aquiles que deve ser reconhecido para que
não sejamos atingidos pela flecha inimiga que se encontra em nós mesmos. Então,
vamos fazer sempre perguntas a nós mesmos: como reajo quando sou contrariado?
Como reajo quando sou injustiçado? Como reajo quando não gosto de algo? Vamos
observar nossa criança interna e perceber de que mecanismo ela se utilizou para
viver o mundo. E vamos então perceber como reagem nossas crianças ao
enfrentamento que a vida promove. Se a raiva for a emoção primordial vamos
percebê-la, o que não significa dar vazão a ela, compreendê-la e transformá-la.
Os florais ajudam muito no processo de entendimento da raiva. O Holly, do grupo
da Hipersensibilidade a Influências Alheias, em desarmonia, é para aqueles que
têm pavio curto, que se sentem traídos, que tem ciúmes, que têm raiva, ódio e inveja.
Ele trabalha o elemento fogo que possui duas propriedades: a de queimar e a de
transformar. Assim como a raiva!
Para finalizar
gostaria de falar sobre um mito africano dos bosquímanos.
Eles contam que
um Louva-a-Deus percebeu que o local onde o Avestruz ficava sempre cheirava
bem. Aí, ele se deu conta de que o Avestruz escondia o fogo debaixo de suas
asas e o utilizava para esquentar a comida, quando ninguém estava vendo. O
Louva-a-Deus ficou pensando em um meio de roubar o fogo do Avestruz. Ele inventou
uma estória de que havia descoberto uma árvore que produzia frutos deliciosos.
Levou o Avestruz até uma árvore de ameixas amarelas e disse a ele que devia
esticar o corpo para alcançar os melhores frutos da árvore. Assim fez o
Avestruz, e ficou nas pontas dos pés, e abriu as asas para se equilibrar. Então
Louva-a-Deus roubou-lhe o fogo. Dizem que é por isso que o Avestruz nunca mais
tentou voar. Mas não pensem que o Louva-Deus saiu ileso. Ele foi destruído por
seu próprio fogo e de suas cinzas foram feitos dois Louva-a-Deus diferentes: um
pensativo, o outro ousado e empreendedor.
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