Tenho
conversado muito com mães absolutamente perdidas no processo de educar.
Lastimam-se de que não sabem mais como agir. As que têm filhos pequenos temem
pelo futuro. As que têm filhos adolescentes temem pelo presente. As que possuem
filhos ultrapassados em sua adolescência, que já deveriam ter responsabilidade
sobres suas próprias vidas, se perguntam: o que deveria ter feito, eu, mãe, no
passado e não fiz?
Conheço
poucas mães que não tenham em algum momento sido acometidas pela culpa
acarretada pela ilusão do que poderiam ter feito e não fizeram. É certo que os
primeiros anos da vida de uma criança passam pela educação especialmente aquela
oferecida pela mãe. Alguns questionarão: ainda é tão importante a presença da
mãe mesmo nestes tempos em que as mulheres trabalham fora? Elas ainda se sentem
tão ligadas aos filhos? Com certeza. Li há pouco tempo o livro Mutações, da
grande atriz Liv Ullman, uma das preferidas por Ingmar Bergman, renomado
cineasta. Ela conta de seu remorso por não cuidar da filha Linn, pois passava a
maior parte do tempo correndo atrás de filmagens e ensaios. O livro fala de
muitas coisas e o mais importante fica por conta de sua relação com a filha.
Fica por conta do que ela poderia ter feito e não fez. É indiscutível que a
responsabilidade de mãe é grande e constitui carga por vezes difícil de
suportar. Há que se ter mão precisa para que o doce não desande. Açúcar demais
dá entojo. Açúcar de menos prejudica o paladar. A mãe na primeira vez que faz o
doce, não sabe o ponto. Tem medo de que fique imprestável, tem medo de deixar
queimar. Medo é palavra chave. O que fazer do ser que gestamos em nossa
barriga? Este rechonchudo contorno que vem para os nossos braços, tela branca a
ser preenchida, pelo menos nos primeiros anos, com o que for apropriado e
correto. Como agir?
Está aí o
problema. Como agir? Parece-me que a questão é: educação. Que é aplicar métodos
próprios para assegurar formação, desenvolvimento físico, intelectual e moral
de um ser humano. Pelo menos é o que diz o dicionário. E faz sentido. Bem, se é
assegurar desenvolvimento dos pequenos seres humanos em todos estes níveis,
haja fôlego!
Por onde
começar? Vamos pensar pelo físico. Basicamente preciso de alimentação que
sustente a criança, que a faça crescer, desenvolver-se, que lhe dê as vitaminas
necessárias, preciso de um local adequado, com condições de higiene. Preciso
estar atenta se está se desenvolvendo de acordo, se não tem algum problema de
saúde, se escuta bem, se enxerga bem, se tem um desenvolvimento psicomotor, se
está de acordo com sua idade. Intelectualmente devo atiçar-lhe a inteligência e
o raciocínio, dar-lhe acesso a leituras e à cultura, colocá-la na escola quando
o momento chegar. Moralmente, devo incutir-lhe bons princípios, normas de
conduta que lhe permitam viver em sociedade. Ah! Há algo indispensável. Devo
amá-la. Devo ser afetuosa. Afeto é fator prioritário.
Ufa! E
que mais? Já não basta? Pois é, não basta! Educação significa mais. Vejamos.
Educação vem do latim educo que quer dizer levar para fora, fazer sair, tirar
de, elevar, exaltar.
Trazer o
que para fora? Se é para trazer de dentro para fora, existe apriori em
nós, está a nossa disposição em algum lugar. Se é algo que ao mesmo tempo eleva
e exalta, deve ser algo bom. Pressupõe uma visão universal das coisas.
Pressupõe que existem leis que governam a natureza humana e que estão a serviço
do equilíbrio. Pressupõe que existem valores universais a serviço da harmonia.
Pressupõe que existem valores absolutos! Aí a coisa engrola. Valores absolutos?
E o que são valores absolutos? Há espaço para valores absolutos nessa sociedade
voltada para o relativo? Como chegar aos tais valores absolutos?
O indiano
Sathya Sai Baba, líder espiritual respeitado, exorta as pessoas em todo mundo a
levarem uma vida plena de propósito e moralidade. Este homem admirável
introduziu um sistema de ensino baseado em cinco valores que ele denomina de
absolutos. São eles: Verdade, Retidão, Paz, Amor e Não violência. Ele os
introduz de uma forma muito interessante. Funciona assim, pelo menos a meu ver.
Como é muito difícil acessar os valores absolutos podemos começar pelo que é
mais fácil de ser atingido. Por exemplo: um dos atributos do amor é a
solidariedade, o compartilhamento. Não é difícil introduzir conceitos de
solidariedade e compartilhamento no lar e na escola. Posso contar estórias. A
dos Três Porquinhos é uma boa pedida. Lembram-se? O porquinho Prático acolheu
os irmãozinhos na casinha de tijolos. Podemos lançar mão de músicas alegres que
falem da possibilidade de compartilhar. Mais que isso e talvez seja o mais
importante, posso como mãe vigiar no lar se estou sendo solidária, se estou
dando exemplos.
Os
valores encarados dessa forma não são bichos de sete cabeças. Na formação de
nossas crianças eles podem e devem estar presentes todo tempo. Claro que isso
exige um mínimo de disponibilidade coisa que as mães não têm tido em dias de
hoje. Vale a pena investir nisso. Qualquer hora é hora para falar de coisas
boas, para falar de virtudes. Qualquer hora é hora para que nós mães procuremos
dentro de nós essas mesmas virtudes. Os gregos diziam que a educação tem de ser
um processo de construção consciente.
Falamos e
falamos. Afinal de contas, para quê? Bem, parece que não sabemos mais o que é
educar. É só dar uma olhada em volta e vamos encontrar mães desesperadas por
não controlar mais os filhos. As coisas mudaram de lugar. Hoje são os filhos
quem dão ordens. Autoridade é algo de que necessitamos. Autoridade não é só
poder de dominação, é poder de fazer obedecer, de fazer ouvir conselhos, de
exercer influência de forma positiva e convincente. Mães devem ter autoridade,
sim. É imprescindível que os futuros homens e mulheres de um País se
desenvolvam física, intelectual e moralmente e isto não se faz sem autoridade.
O limite também se estabelece através da autoridade. E limite é pedra de toque
para um desenvolvimento saudável do indivíduo. Não é preciso nem dizer o que
acarreta a falta de limites. É só ligar a TV e assistir aos noticiários.
Afinal de
contas, o que é autoridade? Autoridade é também um atributo do valor absoluto
chamado retidão. Se dissermos a um filho o que não deve fazer e ele argumentar
tão bem sobre o que deve fazer a ponto de que aceitemos, embora sem concordar,
para onde vai nossa capacidade de mando? Para onde vai nossa capacidade de
contenção, de estabelecimento da ordem familiar? Há coisas que podemos
transigir. Podemos abrir nossas mentes para o moderno. Podemos aceitar que um
filho vá dormir mais tarde, que saia com seus amiguinhos, que vá a festas, que
dialogue conosco. Mas não podemos e não devemos aceitar que ele caminhe a
frente de seu tempo e de sua constituição física por exemplo. Dormir tarde não
é para crianças. Crianças precisam e devem dormir mais cedo. E ponto final. Não
há o que discutir. Não interessa se argumentam que o filho da Mariquinha ou da
Joaninha dorme tarde. Elas precisam dormir mais cedo. Pela saúde. E é isso que
deve ser dito a elas. Com autoridade, com poder de mando, influenciando-as para
que desde cedo tenham cuidado com seu corpo, com sua estrutura física. Se os
pais ficam em dúvida, se temem que a criança faça birra e se jogue no chão e
arranque os cabelos, eles perdem autoridade. Eles demonstram para os filhos que
não têm certeza do que é certo e do que é errado. E aí é que a vaca vai para o
brejo.
Se o
filho quer um presente a todo custo e os pais não podem dar ou acham que aquele
presente não é adequado, então não devem dar. Vídeos-game com teor violento não
trazem bons resultados, horas a fio em frente às telas do computador prejudicam
o cérebro, desequilibram as emoções. Vestir as meninas como se fossem mulheres
em pleno exercício de sedução prematuro é algo terrível. De saltos altos, penteados
de perua, cabelos tingidos, unhas esmaltadas, lá vão elas. Não são mais
meninas, são mulheres, seres adiantados no tempo cujo desenvolvimento biológico
está sendo afetado. Não é por acaso que há meninas menstruando e engravidando
cada vez mais cedo. Então não pode e não dá. E pronto.
Pois é,
falamos de educação e ficamos meio amedrontados. Parece que não vamos dar
conta. Realmente é tarefa para todos os dias. É formar um indivíduo. É
encontrar formas de educá-lo com discernimento e coragem. É não ter medo de
disciplinar. Se podemos trazer de dentro de nós bons conceitos então há
esperança, se bem que o trajeto continue árduo. É um trabalho a ser realizado
em conjunto. Eu me conscientizo das virtudes que posso desenvolver em mim e as
experimento e as transmito a minha prole. Devagar vou percebendo o que de fato
é importante para a preservação de uma humanidade íntegra e capaz de manter-se
assim. Percebo que sem disciplina, sem serviço desinteressado, sem ética é
impossível preservar o ser humano. Sem virtudes e valores estaríamos riscados
da face da terra há muito tempo. Há que se formar uma nova geração e, o apelo
fica para as mães já que por aí vem o dia delas. Os recursos são muitos. Como
já disse há muito de belo para ser utilizado. A arte, a música, o canto, a
dança, o espetáculo visual da natureza. O dia-a-dia pode tornar-se fonte de
ensinamento contínuo. Importante é ressaltar, também, e novamente que há que se
fazer de exemplo.
Como diz
Sathya Sai em sua sabedoria: “A educação sem autocontrole não é educação em
absoluto. A verdadeira educação deveria fazer de uma pessoa alguém compassivo e
humano. Não deveria fazê-la centrar-se em si mesma. A compaixão e o interesse
espontâneos por todos os seres humanos devem fluir do coração de alguém que tenha
sido educado corretamente.”
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