Em
1899 uma mulher nobre Abissínia deu ao antropólogo Frobenius um depoimento. Ela
dizia que um homem jamais poderia saber o que é a vida de uma mulher. Homem e
mulher são diferentes, disse ela. O homem é sempre o mesmo desde o momento da
circuncisão até que morre. Ele não muda ao unir-se à mulher pela primeira vez.
A mulher muda. A mulher não é mais a mesma ao unir-se a um homem. Seu corpo não
é mais o mesmo. A mulher concebe. Como mãe ela é diferente da mulher que não
teve filhos. Ela carrega dentro de si o fruto de sua ligação. Ela é mãe e
continuará sendo mãe para sempre. Mesmo que seus filhos morram ela ainda assim
será mãe. O homem desconhece tudo isso. Não sabe o que há antes do amor e depois
do amor. Apenas a mulher sabe e pode falar disso. Por isso as mulheres não
podem aceitar o que os homens querem que elas façam. A mulher tem sua natureza
e deve agir segundo ela. O que ela deve ser é digna, virgem. Virgem e mãe.
Virgem antes de cada relacionamento amoroso e mãe após cada relacionamento
amoroso. Isto é o que determina se a mulher é boa ou não. Para as feministas
ferrenhas estas magníficas palavras poderiam prestar-se a uma boa briga com os
machos opressores. Mas este texto não se presta ao conflito. Trata-se aqui de
uma glorificação ao feminino. Mulheres e homens têm mesmo naturezas diferentes.
Ambas devem ser ouvidas. No entanto, as mulheres em sua sede de libertar-se da
repressão patriarcal, negaram muitas vezes, radicalmente, suas naturezas. A
mulher cabe ser virgem no sentido de uma em si mesma, aquela que ouve e
respeita a natureza. Aquela que respeita, também os sangramentos, os humores, o
momento de introspecção e o momento de expansão. A que ouve a voz da natureza.
Esta é a mulher de que fala a sábia Abissínia. É preciso que a mulher perceba o
mistério profundo que existe na menstruação, no ato sexual, na concepção. Ao
contrário, nós, mulheres modernas, tomamos remédios para não menstruar, pílulas
para não engravidar, o ato sexual transformamos em puro prazer do corpo,
externo, desligado da qualidade, do sentir o outro no coração, do casamento
maior do masculino e feminino. Afinal, que momento mais propício seria este em
que corpos de diferentes natureza se unem, para um casamento sagrado? Nós,
mulheres, estamos profundamente desconectadas de nossa natureza. Não somos mais
virgens, nem no corpo nem na alma. E se no corpo é de menos importância ser
virgem, tal na alma não acontece. Ser virgem significa estar inteira.
Aceitar-se mulher com todas as alegrias e todas as tristezas, mulher nas dores
do parto se preciso for, mulher no sangramento mês a mês, para que nos saibamos
mulheres e capazes de conceber, mulher cíclica, aceitando os ciclos lunares.
Mulher menina, preservada, salvaguardada, a que brinca, a que dança na roda os
ciclos da vida, a que ouve estórias e é preenchida por valores universais;
mulher jovem, a que usufrui do amor no corpo e na alma, a que constrói para um
futuro limpo, a que dá a luz ao filho bem amado e nunca mais é a mesma; a
mulher adulta, a que construiu, a que manda os filhos para o mundo e se prepara
para um novo momento; a mulher velha, mulher conselheira, a que sabe que valeu
a pena e está pronta para legar aos outros seu conhecimento.
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