Minha
companheira de trabalho, Dea Bertini Bó e eu resolvemos falar sobre mães.
Discutíamos as mães de hoje, muitas delas perdidas, envoltas com tantas
opiniões e tantas teorias, muitas incapazes de buscar dentro delas mesmas,
orientação para o relacionamento com seus rebentos. Daí veio a ideia de tratar
em primeiro lugar do feminino e depois tratar da mulher e consequentemente da
mulher no papel de mãe.
As
Deusas, então, chegaram até nós. Sopraram em nossos ouvidos: Por que não falam
de nós? Escolhemos as Gregas e mergulhamos com dedicação na estória dessas
imortais, habitantes do Olimpo. Estórias míticas símbolos de uma civilização,
estórias de Deuses patriarcais, com suas filhas e mulheres, Deusas, também, se
bem que com menos autoridade, já que se trata aqui de falar de um mundo em que
o masculino governa. Digo sem autoridade, porém poderosas.
Muitos e
muitas devem se perguntar o porquê de buscar tão longe. Porque as Deusas representam padrões
internos com os quais as mulheres podem se identificar. Padrões que ajudam o
autoconhecimento e ajudam a respeitar as diferenças individuais. As Deusas
exprimem um tipo de personalidade feminina que reconhecemos a nossa volta e em
nós mesmas.
Escolhemos
seis Deusas: as Virgens (Artemis, Atena, Hestia), as Vulneráveis (Hera,
Demeter) e a Deusa Alquímica (Afrodite).
Há muitos
aspectos a serem vistos, mas pretendo falar um pouco de como as Deusas
interferem na mulher que é mãe. De modo geral as mulheres que se identificam
com as Deusas Virgens não desejam ter filhos, ou não pensam nisso o que não
quer dizer que não possam ser mães e dar conta de sua tarefa a contento.
Mulheres
Ártemis são absolutamente independentes e autossuficientes. Relacionam-se
consigo mesmas perfeitamente bem sem a presença de um homem em suas vidas, ou
filhos correndo pela casa. Gostam de reclusão e se afastam do mundo, gostam de
conviver com outras mulheres e podem auxiliá-las em trabalhos de parto - não
nos esqueçamos de que Ártemis ajudou sua mãe Leto no nascimento de Apolo, seu
irmão gêmeo, uma vez que Hera a mulher de Zeus proibiu que quem quer que seja
acolhesse a amante do marido.
Se
mulheres Ártemis forem mães terão relação com os filhos similar a leoas com
suas crias. Elas os protegerão por tempo suficiente para que saiam para o
mundo. Elas os defenderão de unhas e dentes enquanto precisam, mas não
tolerarão filhos dependentes e passivos.
A mulher
Atenas, também independente terá como carro-chave o pensamento lógico. Não é
por acaso que essa Deusa saiu da cabeça de seu pai Zeus. Foi a única habitante
do Olimpo que não teve mãe. Assim quem se identifica com ela dará muito pouca
atenção ao corpo, aos sentimentos e às emoções. Se Atenas for mãe será
absolutamente competente no que se refere ao planejamento da gravidez, ao
enxoval, a preparação do quarto para os bebês. Não esperem dela carinho e
cuidados. Provavelmente contratará uma babá, verificará se é extremamente
competente, sairá para o trabalho e retornará a noite. Ela quer que seus filhos
cresçam rapidamente para que tenham com eles conversas de igual para igual.
Hestia é
a deusa da lareira, responsável por manter o fogo do lar, dos templos e sua
presença era fundamental para a vida da comunidade. Se a mulher tiver
tendências Hestia será uma mãe preocupada em manter harmonia no lar, cuidará da
casa e dos filhos não como uma obrigação, mas como algo sagrado. Por outro
lado, poderá ser desligada para coisas que digam respeito à relação com o mundo
externo já que seu âmbito é espiritual.
A Deusa
Afrodite nascida do casamento entre Zeus e Dione ou da espuma do mar, misturada
ao esperma dos órgãos genitais de Urano, é a Deusa do Amor e dos
relacionamentos. As mães Afrodite gostam de crianças. Elas passam a seus filhos
um sentimento de que são especiais, o olhar de Afrodite transmite ao outro o
sentimento de ser único. O problema pode estar em que essa mãe encanta seus
filhos com sua presença, mas pode viajar a qualquer momento ou mudar de marido,
ou de namorado. Ela não poderá propiciar segurança e estabilidade a eles.
Na Grécia
antiga Demeter era a Deusa Mãe e tinha a função de presidir as colheitas e
assim de alimentar a humanidade através da renovação da vida, especialmente da
vida vegetal. Imaginemos então o que é uma mãe Demeter. É aquela que adora
ficar grávida, que gosta de cuidar de bebês, que gosta de cuidar das pessoas.
Aos filhos não faltará carinho e cuidados. Porém Demeter poderá ser maravilhosa
se tornar os filhos independentes no devido tempo ou poderá ser a mãe
castradora, dominadora, a mãe devoradora, empecilho para que se desenvolvam e
vivam suas próprias vidas.
Hera é a
poderosa e ciumenta mulher de Zeus, para quem casamento, tradição e família são
assuntos de suma importância. Mães Hera são mães não pelo coração, mas sim pela
tradição. Família requer filhos, o papel de esposa requer filhos. Importante
para ela é o poder ao lado de um marido também poderoso. Ela não hesitará em
passar por cima dos interesses dos filhos para proteger o marido. Os filhos se
queixam de sua ausência afetiva, porém se precisar tomar conta deles o fará com
muita competência.
São só
pinceladas se pensarmos em tudo que há para refletir sobre as Deusas. Bom é
colocar que temos tendências, que nos identificamos com determinadas
características. Acredito que sempre há um padrão que diz respeito à nossa
essência, mas não podemos nos esquecer de que a educação, os hábitos, as
crenças vão imprimindo em nós sua marca. É importante perceber que Deusas
deixamos que nos governem, que Deusas precisamos agregar à nossa personalidade,
que exageros precisamos polir para que a mãe em nós se torne mais e mais
equilibrada.
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