Eu! Cruel?



Não há nada que irrite mais do que a atitude, que costumo imputar principalmente aos americanos, de meter debaixo do tapete tudo que lhes é desfavorável, transformando-o em pontos a seu favor. É muito mais que um deixar para lá que pode supor um querer ver depois, é distorcer fatos e mudá-los ao bel prazer. É um “tudo está bem, quando acaba bem”. Obviamente o acabar bem está a serviço de vencer a qualquer preço e esquecer de que forma vencemos. Acredita-se que é possível manipular sempre, que a verdade é um estado que nos leva ao que nos beneficia: meios justificam os fins. Nós somos nós e o tu realmente não existe. O outro, assim, na nossa vida passa a ser um mero coadjuvante, péssimo ator é claro, e exercemos sobre ele imensa crueldade. Por muito tempo pode parecer que estamos vencendo, pode ser que a sorte nos olhe benévola e promissora, mas..., algo vai sendo corroído pela base, uma rigidez muscular surge, insônias, atos falhos. Havia algo de podre no reino da Dinamarca assim como há muitos cadáveres na América saindo para luz e impregnando seus domínios, antes inexpugnáveis. Para os que conquistaram tudo a qualquer preço, é chegada a hora de saldar as contas. Não se trata de castigo divino. Trata-se da ordem natural das coisas. Por estranho que nos possa parecer, a nós que muitas vezes desacreditamos, tal ordem existe. Ela nos é mostrada na relação entre os seres da natureza, ela nos é mostrada a todo instante. Qualquer ato cometido cruelmente contra nosso semelhante fica impregnado em nós porque atenta contra a Unidade e, portanto, está sendo cometido contra nós mesmos. Respeitar a Unidade não é uma questão de sermos seres bonzinhos, mas de sermos seres inteligentes a quem importa preservar-se.

No entanto, outra questão dever ser levantada. Afinal, o que é ser cruel? Quando estamos sendo cruéis? Crueldade não será um termo muito forte? Ser cruel não será algo de terrível?

Muitos dirão: eu nunca fui cruel! Sou tão tolerante!

Crueldade implica em querermos que os outros façam como achamos que deveria ser feito. O “deveria ser feito”, obviamente passa pelo nosso ponto de vista. Podemos ser cruéis quando queremos dominar o outro através de nossos choramingos: não há crueldade maior do que a da vítima! Podemos ser cruéis quando provocamos medo em nosso semelhante através de nossas palavras ferinas, quando os desestimulamos com nossas críticas exacerbadas, quando os incitamos a desenvolver as coisas em nosso ritmo, quando nos servimos de seus ouvidos para despejar nossas queixas. A crueldade tem muitas facetas e sabemos muitíssimo bem nos servir dela. As essências florais são indicadas para estados em que a crueldade se manifesta. Porém, há maneiras e maneiras de sermos cruéis e é preciso que olhemos para elas. É imprescindível que as identifiquemos. É preciso que estejamos dispostos a ver-nos tal como somos. Somente assim o método de Bach poderá cumprir plenamente o seu papel: o de levar o homem a um confronto consigo mesmo para que seja indicada a essência precisa, aquela que vai de encontro a quem realmente ele é e, que lhe trará a virtude reparadoura.

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