Ser mãe



Como mãe que sou, de três lindos filhos - e não sou mãe coruja - deveria saber definir o que é ser mãe. Mas não sei. Uma vez quando fui fazer um mapa astral, com um cara em São Paulo, ele queria porque queria que eu dissesse o que havia sido a experiência de ser mãe. Eu tinha tido na época a minha primeira filha. A gravidez havia sido boa. O parto não fora normal, mas o nascimento não tivera problemas. A criança era linda e saudável.
Então eu disse a ele apenas o que mencionei acima e ele muito se decepcionou. Esperava, percebi, que eu relatasse uma experiência maravilhosa, em que eu me sentisse a mais abençoada das mulheres na face da terra porque havia me tornado mãe. Saí me sentindo culpada. Que diabos de mãe sou eu, pensava.

Tive depois meus outros dois filhos e, sim, foi emocionante recebê-los, mas confesso: não ouvi toque de sinos, nem me elevei à categoria de santa, nem ao menos me senti como um ser especial. Sim, gravidez é uma benção. Sim, chegará ao mundo alguém novo e habitará nossos corpos e ali permanecerá por nove longos meses. Alguém com permissão, por Artes do Criador, de experimentar a vida neste Planeta, pequeno ponto azul no Universo. Sim, a missão é divina, porém nenhuma mulher ascende ao patamar de Deusa por estar grávida. Nenhuma consegue anular o que é pelo simples fato de ter sido agraciada com a gravidez. Mães são mulheres. Carregam consigo suas mazelas, suas crenças, o que receberam de suas mães e de suas famílias. Padecem de frustrações e desenganos. Padecem de insegurança e medo. Mães são humanas. Quando recebemos a notícia de que um ser novo começa a crescer dentro de nós, por mais auspiciosa que seja a notícia, por mais que esperemos, é sempre algo desafiador. Todas nos perguntamos se daremos conta, se seremos capazes. Este amor tão decantado que acreditamos estar a nossa disposição, absurdamente grande, que nós fará esquecer de nós mesmas para pensar exclusivamente em nossos rebentos é uma utopia.

Este amor exige uma perfeição que estamos longe de atingir. Sim, erraremos muito. Não temos um livro de regras: ser mãe é... Ser mãe é tudo e muitas vezes é muito pouco diante da imensidão que é o ser que parimos. Ser mãe é olhar para nossas imperfeições e a despeito disso dar conta. Dar conta das noites mal dormidas, dar conta das tarefas do dia a dia. Dar conta das fraldas sujas de cocô. Dar conta das febres. Dar conta do reconhecimento daquele ser que saiu de dentro de nós, que é nosso, mas é tão diferente! Dar conta de nossas irritações e especialmente e sempre, dar conta de nossas culpas. Dar conta de transformar culpa em responsabilidade!

Dar conta da imensidão que é ser responsável. Talvez ser mãe em primeiro lugar signifique ser responsável. Desde a gravidez ser responsável pelo crescimento adequado daquele ser; ser responsável por nossas emoções para que as mais deletérias não o afetem. Responsável por mantê-lo vivo, responsável por introduzi-lo nas regras para que seja civilizado, para que seja apresentado ao mundo e saiba se comportar. Responsável por respeitá-lo como é e não como gostaríamos que fosse! Responsável por manter autoridade e respeito caminhando juntos.

Responsabilidade talvez seja a palavra-chave. De responsabilidade em responsabilidade aprendemos a amar, aprendemos que o amor é algo que se constrói à medida em que respondemos pelos seres que nos foram presenteados por Deus.

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