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felicidade é coisa boa, não é? Todos querem ser felizes? Parece! O caminho para
felicidade é fácil de ser trilhado? Pior: existe caminho para a felicidade? O
que é felicidade?
Eu pergunto, mas
ainda não sei. Perguntar é meu caminho para saber. Já digo que é um caminho
meu, próprio, pois acredito em caminhos próprios. Perguntar para encontrar um
jeito que seja o da gente.
Começo por
recorrer ao dicionário. Todos o que leem o que escrevo sabem que adoro
dicionários. Vejo que felicidade quer dizer qualidade ou estado de ser feliz.
Bom, é coisa óbvia. Ser feliz é segundo “o pai dos burros” satisfazer
desejos, aspirações e exigências. Vou procurar na etmologia e lá está:
felicidade remete à ventura e dita. Ventura é o que virá no futuro. Dita diz
respeito a coisas ditas, pois havia uma crença pagã de que o destino das
crianças dependia das palavras que os deuses ou as parcas pronunciavam ao
nascerem. Se fossem boas, o destino do recém-nascido seria bom, se ruins, pobre
dele.
Se felicidade
fosse ter todos os desejos atendidos e todas as aspirações e todas as
exigências, para começar a vida seria é muito chata. Aconteceria que ao sermos
atendidos sempre e sempre, iríamos procurar coisas para desejar cada vez mais
esdrúxulas, mais distantes e mais impossíveis. Nosso olhar ficaria restrito
apenas aos objetos de nossos desejos. Provavelmente ao adquiri-los sempre e
muito, chegaria um tempo em que tudo se tornaria descartável e supérfluo.
Parece familiar!
Se as coisas
ditas trouxessem felicidade e os Deuses com suas palavras nos destinassem
grandes porcarias, então estaríamos perdidos em becos sem saída. Só os que
viessem com “as boas ditas”, seriam felizes.
Se fosse
ventura, ou seja, ficar almejando o futuro, viveríamos em expectativas
crescentes, impacientes e angustiados.
Então como fica?
Alguns diriam que o termo felicidade é algo relativo, pois eu posso ser feliz
de um jeito e o meu vizinho de outro e assim por diante. Outros dizem que a
felicidade está sempre onde não podemos alcançá-la. Se não posso alcançar
para que procurá-la?
Felicidade no
tempo da minha avó era não gozar a vida. Era ficar muito triste sempre e rezar
muito para alcançar a felicidade em outra esfera. Lá no reino dos céus, que ela
não tinha a mínima ideia de onde era, mas que tinha certeza que existia. A vida
por aqui era mesmo um vale de lágrimas. Um exagero! Uma pena, também!
Nos tempos que
correm felicidade é bem procurada. Parece que se assemelha a não ficar triste
para não incomodar os outros, ter bens materiais para se assemelhar aos outros,
vencer na vida para se sobrepujar aos outros, ter prazer para contar para os
outros. Felicidade é um estado que devemos alcançar, como devemos alcançar
orgasmo em nossas relações sexuais sendo que felicidade e orgasmo passam por
regras que não estabelecemos, com as quais muitas vezes não concordamos, mas
que devemos aceitar para não ficar por fora do que a maioria acha que é o
adequado para nós. Felicidade é ficar magra como palito. É não ter nenhum
problema na vida. Felicidade é a gente não ser gente. Dá trabalho, gera
ansiedade e se esgota rapidamente. Escoa, vaza. Dá um vazio danado.
É que somos
também, as nossas crenças. Minha avó acreditava na infelicidade como caminho
para Deus. Muitos hoje em dia acreditam que felicidade é viver para inputs
externos, felicidade é viver para o objeto, o sujeito relegado às sombras. Se é
desse jeito, não tem jeito? Nós nunca seremos felizes?
Para dizer a
verdade, eu não sei! Sei falar do que acredito. Mais uma vez se trata de olhar
para as próprias crenças. Dentro de mim, certamente há crenças de minha avó.
Eu, também, muitas vezes fico emaranhada na rede das opiniões do mundo em que
vivo.
Acontece que
felicidade para mim é também ter bem-estar, sentir-se bem em uma condição que
não é permanente, pois o verbo estar remete a algo que não é permanente.
Felicidade então é viver bem o não permanente. Baseados no que realmente
sentimos. É estar bem no corpo nos “aquis e nos agoras”. É aproveitar o que se
desejou e que se tornou realidade com gosto e alegria, por inteiro. É
aproveitar o que se tem no agora. E, muito importante é saber o que se quer. È
viver com prazer. É hedonismo? Talvez seja um hedonismo epicurista, se é que
posso chamar assim, no sentido de gozar a vida com moderação, ou seja, sem
ferir a si mesmo, sem ferir os outros, o que supõe muito contentamento e muita
plenitude e muito ouvido interno, para ouvir o próprio coração, que não mente e
sabe tudo o que precisamos.
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