Um amigo querido
me disse que fica muito triste com quem apequena o amor. Eu também fico muito
triste mas penso que é porque nem mesmo sabemos o que o amor é, por isso o
apequenamos. Não pensamos nele como um valor absoluto. Algo que deve ser
ofertado a tudo e a todos. E por onde começará o amor? Por nós mesmos. É dentro
de nós que o vivenciaremos primeiro. Porém, embora ele esteja disponível no
universo, digamos assim como dádiva divina, no momento em que somos
despontados, linda semente no útero de nossas mães, estamos suscetíveis ao
deturpamento do amor. Mesmo lá quentinhos acolhidos estamos sujeitos a emoções
maternas, ao meio ambiente. Nascemos, portanto, por assim dizer contaminados. E
apequenamos o amor. Contaminados pelos relacionamentos familiares. Pelos
conflitos de nossas mães quanto a nos querer ou não. Sim, porque não é sempre
que as mães querem os filhos, não é sempre que elas os querem integralmente com
todo o amor de seu coração. Há medo, há dúvida, há muitas vezes raiva e muitas
vezes culpa nos corações maternos. O amor pode estar à disposição, mas nós não
o acessamos tão facilmente. E como gostaríamos de fazê-lo damos nome de amor ao
que se lhe foge de longe. Amor será o querer o outro a nossa forma e imagem?
Será querer para o outro aquilo que achamos bom para nós sem lhe perguntarmos
se é o que ele quer para a sua vida.
Há mil formas de
definir o amor e nós nos apossamos de todas, porém, intelectualmente. E
apequenamos o amor.
Como será mesmo
sentir o amor. Fala-se disso, fala-se daquilo. O amor será paixão, será
domínio, será posse, será sexualidade desenfreada. Como será fazer amor com o
outro? Será usufruir do corpo sem contatar a alma? Será que só podemos amar
alguém se ele estiver sob os nossos olhos, sob o nosso jugo, sob o nosso domínio?
Como será não
apequenar o amor. Nós não sabemos. Mas intuímos a grandiosidade do amor.
Intuímos que somos criaturas passíveis de senti-lo em toda sua intensidade, em
toda sua grandiosidade. Tudo o que queremos é senti-lo. Parar, ouvir o pulsar
do coração pode ser o primeiro passo. Sístole, diástole. Inspiração, expiração.
Dizem na Cabala que Deus nos expira ao nascermos e nos inspira quando nos leva
embora. Enquanto aqui estamos Ele nos dá os movimentos do coração para que
saibamos controlá-lo, para que tenhamos ritmo. Talvez o amor seja isto: uma
questão de ritmo interno. Ter ouvidos para o que realmente nos traz refrigério
à alma. Se algo nos invade e deixamos que o faça estamos em ritmo
descompassado. Se invadimos o outro também estamos em ritmo descompassado. O
amor se apequena. Na filosofia Zen a arte do arco e flecha envolve a questão do
ritmo. O importante não é atingir o alvo e sim, sentir o ritmo interno até que
algo, algo que nos transcende impulsione o fluir da flecha. O amor talvez
chegue até nós se dançarmos a dança do universo e se convidarmos o outro para
dançar conosco: inspiração, expiração. Minha essência tocando a outra essência.
A certeza de que no amor somos grandiosos.
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