Todo
final de ano nós pensamos em mudar, em reestruturar nossas vidas, em modificar
o que esteve e ainda está errado. Sabemos no decorrer dos meses o que não
esteve bem, o que poderia ser mudado, mas não fazemos nada. Porém, nos
estertores do ano que termina, tudo se nos afigura claramente e dizemos com
firmeza: neste ano que se inicia agiremos de forma diferente. O problema é que
na maioria das vezes não cumprimos nossa promessa e mais um ano se escoa a
levar-nos tais e quais estávamos anteriormente. É que para mudar não basta que
queiramos, não basta que saibamos o que é preciso mudar. Não basta saber o nome
do que nos azucrina. É preciso substituir este nome por outro mais positivo. Se
eu estou acostumada a tratar uma pessoa de forma grosseira, por exemplo, não
basta que eu tome conhecimento disso, é preciso que eu mude a forma de tratá-la
e passe a tratá-la melhor com palavras mais brandas. Se eu sou do tipo que não
consegue tomar atitude nenhuma na vida e que fica esperando a opinião dos
outros para fazer algo não basta que saiba disso, é preciso que eu comece a
agir por mim mesma. Se eu sou aquele que gosta de ser coitado, que se sente
sempre vítima dos outros, da vida e do destino, não basta que eu me perceba
como tal, é preciso que eu comece a agir de forma a boicotar minha tendência a
fazê-lo. Mas agir assim não é fácil. O fato é que nós nos acostumamos com a
felicidade e com a infelicidade. Estão gravadas em nós todas as nossas
experiências felizes e infelizes. Assim se passamos uma vida toda a jogar o
jogo da infelicidade, estamos de tal forma mergulhados nesta forma de ser que
não sabemos mais como sair dela. Podemos ter consciência de que agimos assim,
mas há uma programação dentro de nós, que pode ter sido implantada por nossa
família, pela sociedade, que nós estamos ajudando a manter e que só nós podemos
mudar. Da mesma forma que reprogramamos alguém que sofreu um Acidente Vascular
Cerebral para andar novamente, para falar novamente, podemos remodelar nossas
ações. Porém, o trabalho é lento e requer muita força de vontade e
persistência. Vamos mudar um programa, vamos mudar o nome do programa, porém
não é tão simples como instalar algo no computador. Pequenas ações devem ser
iniciadas no dia-a-dia para que nos acostumemos com a nova fase, senão
poderemos ser vítimas de uma defesa interna exacerbada. É, por incrível que
pareça o organismo grita quando começa a ser-lhe apontada a perspectiva de
entrar em equilíbrio.
Então iremos
pouco a pouco. Passo a passo. Sem forçar nada. De um momento para outro não dá
para tratar bem alguém a quem costumamos tratar mal. No entanto podemos
respirar fundo a cada vez que formos dizer algo ofensivo. Sem mais nem menos
não deixamos de ser vítimas, mas podemos nos exercitar a não sê-lo.
Experimentar durante o dia usar palavras positivas pode dar resultado, deixar
de lastimar-se, também. Não adianta começar um regime louco porque estamos
muitos quilos acima do peso e comer parcas e mirradas refeições quando se está
morrendo de fome. É preferível comer muitas vezes por dia, ir abdicando aos
poucos daquilo que nos engorda, ir emagrecendo pouco a pouco para que nos
acostumemos ao novo corpo e o velho corpo perceba que já não é mais necessário.
Há uma estória
muito interessante sobre Milton Hyland Erickson, famoso psiquiatra e fundador
da American Society of Clinical Hypnosis. Ele estava paralítico e preso a uma
cadeira de balanço e vendo seu povo trabalhar lá fora do campo. Dentro dele
ergueu-se uma vontade enorme de estar lá com eles. De repente percebeu que a
cadeira de balanço se movimentava e que tal fato havia sido possível pela
enorme força que havia dentro dele: a força curadora. Começou então a treinar
sua mão, seus braços e voltou a andar. Passo a passo. Nem todos temos a força
de vontade de um Milton Erickson. E, mesmo possuindo esta imensa força, Milton
necessitou de treinamento contínuo e levou tempo para recuperar-se. Podemos
começar a treinar novas maneiras de ser, para que possamos andar por novos
caminhos e para que possamos contar com a força curadora que jaz dentro de
todos nós.
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