Absoluta ou relativa?



Quando se fala em verdade o que nos vem é: a verdade é relativa. É verdade que podemos olhar para a mesma coisa de modo diferente. Tudo está sujeito às condições que o momento propicia. Olhamos o mesmo objeto mas o decodificamos de modo diferente. Todo mundo conhece a história dos dois cegos que acariciaram um elefante. Um acariciou-lhe a tromba e, o outro as grandes patas e deram depoimentos sobre o bicho de forma completamente diferente. Há outra estória iorubana que conta que Exu vagava pelo mundo e observou dois fazendeiros que aravam o campo em trilhas diferentes. Ora, Exu possuía um chapéu vermelho de um lado, branco do outro, verde na frente e preto atrás. Ele mostrou o lado branco para um dos fazendeiros, e o lado vermelho para o outro. Quando os dois se encontraram depois da lida acabaram por brigar porque um dizia que o chapéu era de uma cor e outro dizia que não era.

Nos tempos que correm o sentido da palavra relativo, que deveria referir-se à capacidade de comparar, de fazer analogias, o que é extremamente saudável e base para a compreensão das coisas, migrou para satisfazer o que é de conveniência pessoal. Se algo me beneficia está tudo bem. Então fica relativa a questão de honestidade, de decência e de outros valores em extinção. Vou comparar-me com o que me interessa e como Exu, criar muita confusão. Desta forma não é de se admirar que nos perguntemos: haverá verdade absoluta? Haverá algo em que possamos de fato acreditar?

Penso que o nascimento e a morte são verdades incontestáveis. Todo mundo nasce e todo mundo morre. O que mais seria incontestável neste mundo? À primeira vista, nada. Porém se nos perguntarmos como se nasce e como se morre e como acontecem estas duas infalibilidades e se acumularmos informações baseadas nas várias opiniões de eminentes intelectuais e mais para frente nos depararmos com estórias contadas por indígenas, povos primitivos, pessoas do povo, eminentes iletrados, e de repente nos dermos conta de que falam uma mesma linguagem, perceberemos que há uma ideia única a respeito de nascer e morrer. Esta ideia concebe uma verdade absoluta que é a do criador da vida e da morte. Concebe uma verdade absoluta que é a da transitoriedade de tudo.

Então para chegarmos à verdade absoluta deveremos passar por uma série de questionamentos onde devem ser levadas em conta as mais variadas opiniões? Sim.  Opiniões daqueles que refletem sobre as coisas intelectualmente. Percepções daqueles que se utilizam menos do pensamento e mais do coração, mas que consubstanciam através de atos o que os pensadores levaram tempo para concluir.

Tudo junto, em tapeçaria muito bem tecida, de desenho coeso e indestrutível, estaremos prontos para buscar dentro de nós a verdade que nos cabe. A que responde a eterna pergunta: Quem sou eu?

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