Borboletas



Borboletas? Gosto e muito. São leves e coloridas. Alegram olhos. Lembro-me de vê-las, uma vez, tranquila cidade de Minas, havia um regato, sentei-me sobre uma pedra, elas vieram, de repente. Era enxame de cores, brilhavam, eram luz e alegria. Tive uma espécie de êxtase. Borboletas são tão femininas!

Borboletas parecem frágeis. De fato são. Não penso em tocá-las. Posso desmanchar-lhes as asas. Posso arrebatar-lhes as cores. Podem terminar em nada. Como diz Adélia Prado: a borboleta pousada, ou é tudo ou é nada.

O nada, penso, é o corpo frágil que mão estúpida pode avassalar. O tudo é o que representam esses seres alados. Algo que migrou de massa densa, que amargou em longo exílio para enfim tornar-se ser livre e pulsante: símbolo da alma.

Lembrem-se: esta borboleta que nos enche os olhos já foi lagarta, já dormiu inerte em casulo gordo, pronta para ressurgir, emergir das trevas, vestida do novo, festa para a natureza.

Podemos ser borboletas, apenas, símbolos de fragilidade e de inconstância. Ataviadas em belas roupas, belos rostos, belas máscaras. Serviçais do externo, tinturas aparentes sujeitas ao desbotar do tempo. Podemos exibir nossas cores sujeitas a que nos amarrotem a qualquer momento ou que arranquem nossas asas sem dó nem piedade. Podemos ser superficiais. Pior, podemos afivelar a máscara em nossas faces de tal forma que ela se incorpore a nós, como no sábio poema de Fernando Pessoa, o renomado poeta português. Podemos temer de tal forma as transformações a ponto de não aceitarmos finitudes como fatores de mudança. Necessárias e valiosas.

E assim, não botamos ovos, não viramos lagartas, não rastejamos plenas de nossas incertezas e dissabores pelo mundo. Corajosas de olhar para o que somos. Incapacitadas, porém crentes em algo melhor. Certas da recompensa, que é o autoconhecimento, a luz que advirá após a incubação.

Chegar a borboleta é apossar-se da alma e renascer sempre. E só renasce aquele que enfrenta os ciclos da vida e suas vicissitudes, escorado na esperança de dias melhores e coloridos como as asas da borboleta.

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