Ao indagar sobre
a diferença entre erotismo e pornografia parece à primeira vista que se trata
apenas de uma questão de intensidade. Erotismo seria algo assim, mais delicado,
velado, encoberto, uma versão hipócrita do amor sexual e de suas nuanças.
Pornografia seria a revelação explícita, versão chula e escrachada das ações
que o desejo sexual pode provocar.
Não se pode
negar que ambos dizem respeito aos prazeres do sexo, à sensualidade, à volúpia.
Referem-se às sensações essas danadas das quais não podemos nos safar. Mas não
estão tão longe um do outro.
Erótico remete
ao Deus Eros que é considerado o Deus do Amor. Filho de Afrodite, em algumas
versões, aquela Deusa nada contida em sua sexualidade ou segundo o estudo da
Teogonia - origem dos Deuses -, uma força avassaladora que leva ao
acasalamento, Eros é responsável pela perpetuação da espécie. O erótico começa
em favor da vida, sem este impulso provavelmente não teríamos chegado até aqui,
haveria carência da união masculino e feminino para formar novas gentes, novos
povos.
Então esse tal
de Eros é apenas um impulso? Sim, em princípio é. A última coisa com a qual ele
se preocupa é com o Amor pelo menos no sentido de algo que nos preenche e que
vai além da realização de nossos desejos e do que clamam nossos sentidos. Tanto
é verdade que mesmo o anjinho alado, gordinho e fofo, uma das representações de
Eros, quando nos lança flechas fere nosso coração e nosso fígado.
Aleatoriamente. A seu bel prazer. Dane-se que não saibamos lidar com o objeto
de nossa paixão. Dane-se que o objeto escolhido não esteja nem aí pra gente.
Vire-se, diz Eros. Ele fere e vai-se embora com sua face rubicunda e
aparentemente ingênua, esboçando um sorrisinho de quem cumpriu sua tarefa.
Ficamos ali,
muitas vezes, estupefatos, sem saber se damos conta da paixão. A despeito disso
Eros vem brincando conosco desde sempre. Ele atinge os órgãos genitais, mas não
atinge o coração. Haverá um momento em que sentimos falta disso. Precisamos de
mais. Falta algo, algo capenga. Podemos nos refugiar nas fantasias, podemos ter
medo delas e é aí que surge, a meu ver a Pornografia. Vem explícita, vem
descarada. Traz imagens obscenas e estranhas. Pode levar a comportamentos
destrutivos, pode apenas macular algo dentro de nós. De qualquer modo está a
serviço de uma mudança. Pode ser Caos, mas não nos esqueçamos de que Caos é
também mudança. Separa para criar. De uma forma dolorosa que serve ao mesmo
intuito.
Queremos algo
que atinja nosso coração. Este é outro momento. É corpo e olhos. É mergulho no
outro via olhar. É descoberta de algo fantástico: eu sou o outro, o outro sou
eu. Duas essências que se tocam. Duas energias a serviço do AMOR, aquele que
vai levar à compaixão e a níveis mais elevados de entendimento.
O caminho pode
ser longo, tortuoso, pedregoso. E passamos por Eros. E Eros evolui conosco. E
passamos muitas vezes por Porneia que nos sorri com seu jeito debochado. Não
importa, queremos chegar à plenitude. Cairemos, levantaremos. Um dia vamos
aprender a lidar com isso.
Ocorre-me que
Deus seja qual for a sua manifestação é o Grande Prestidigitador. Coloca-nos em
contato com a tentação, e com o desejo. Com o Bem e com o Mal. Coloca-nos em um
mundo de ilusões. Seu objetivo, porém não é o de que fiquemos iludidos para
sempre. Ele nos dotou da capacidade de encontrar respostas dentro de nós mesmos
e sabe que vamos vencer: um dia. Não importa quanto tempo leve. Bom é saber que
somos capazes. Não somos seres pecadores, somos seres de crescimento e de
experiência à espera da Graça que, certamente virá.
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