Tenho
conversado com muitas pessoas que perderam o emprego e não encontram outro,
embora procurem desesperadamente. O motivo: Adentraram a provecta fase dos
“enta” e têm ainda o defeito imenso de ter um bom currículo. Isto significa que
ninguém vai querer empregá-los porque terão que lhes pagar bem e é melhor
contratar dois “incompetentes” ganhando pouco do que um competente oneroso.
Pode significar, também que as pessoas têm medo de alguém que as supere. Alguém
cuja experiência ameace o “status quo” da empresa. Pode ser é claro que lhe
falte mérito, mas poucas vezes são eles de fato testados. Currículos são
enviados onde deve ser especificada a idade e sabemos que ela é fator de
rejeição. Muitas desculpas aparecem. O estranho é pensar que o sujeito, de
repente, desaprendeu tudo o que acumulou no decorrer de sua vida profissional.
Em um passe de mágica ele perdeu seu valor. Se estivesse trabalhando aos
quarenta anos como funcionário credenciado, seria considerado pela sua
experiência, porém se aos quarenta e um anos e um mês fosse demitido e se
pusesse a procurar emprego ser-lhe-ia imputada a pecha de estar defasado e
velho. Não é preciso que muito tempo se passe. O desempregado pode ser recente
e mesmo assim alguém pode vir e dizer-lhe que ele agora é um programa
ultrapassado. Como tal deverá ser deletado? Não haverá uma maneira da sociedade
utilizar o potencial desses indivíduos? Utilizá-los como uma espécie de
educadores das novas gerações nas firmas? Talvez se olharmos à nossa volta e
nos lembrarmos de que aquele fulano está precisando de emprego nossos olhos
possam ver algum cartaz escondido, oferecendo adivinhemos o quê: emprego! Pode
ser que se pensarmos neles, naqueles de que acabamos de falar, nos lembremos
que temos um amigo, que tem uma empresa, que tem uma vaga...Talvez possamos
oferecer parcerias em que não entre tanto dinheiro, mas que ofereçam
possibilidades de algo criativo e digno. Talvez possamos apenas tratá-lo como
alguém em situação difícil da mesma forma que gostaríamos de ser tratados se
estivéssemos em seu lugar. E, principalmente devêssemos deixar de lado a
solidariedade do faz-de-conta de que estou contribuindo com as pessoas quando
na verdade estou defendendo meus próprios interesses e, realmente abrir-lhes
uma porta.
Caso contrário
poderá ele querer bandear-se para o mundo de Hades. Provavelmente não vai poder
porque não possuirá moeda para negociar com Caronte. É que não se oferecem
empregos de menor monta para alguém que já foi alguém. No entanto embora ele já
tenha sido “alguém”, hoje é ninguém para arranjar um emprego bom ou mediano. É
bem possível que não tenha nenhuma moeda no bolso nem para tomar um ônibus que
dirá para o barqueiro mitológico!
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