Quase não parida

Minha mãe muito me queria.
Eu era bálsamo.
Eu era emplastro
para dores do sempre,
promessa de alegria
em mundo
sem critério
e falto de pudor.
Minha mãe muito me queria
por isso me guardou pouco tempo.
Tinha medo,
eu não saísse e virasse vento
a escapulir do ventre.
E se eu sumisse,
negasse o mistério de ser.
E se eu rebentasse
antes de nascer?
Medo maior ainda
era o de ficar solitária
e perdida
sem algo pra chamar de seu.
Acho , ouvi o brado daquela
mulher desesperada
e saí apostando corrida,
pequenina e mal formada.
Quase era feto,
quase não desperto pra vida,
quase fui aborto:
por um triz fui parida.

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